domingo, 13 de março de 2011

Os traumas e suas consequências.


Atingido o objetivo, o trauma inaugural deve fazer-nos posicionar de duas formas diante da nova situação: na perseverança de conseguir a sensação de completude anterior e, após consecutivas frustrações, desistindo dela. Sendo assim, podemos entender as diferenças primárias dos bebês logo após o nascimento quando uns parecem estar mais satisfeitos e calmos e outros se comportam de maneira mais agressiva e agitada. É claro que o comportamento da pessoa maternante nesta fase será primordial para a superação ou evolução dos sentimentos que nos afligem e nos acompanharão daí até o trauma do espelho, influenciando também no resultado deste.

 Penso que o trauma do espelho pode nos atingir de três maneiras: a primeira quando concordamos com a imagem refletida, a segunda ficando satisfeitos, apaixonados ou vidrados a ela - que a princípio é natural e esperado que aconteça - e a terceira ficando em desacordo ou insatisfeitos. A imagem é o primeiro registro de eu imaginário e o impacto que ela causa à pessoa pode ser determinante na forma como essa agirá depois de seu reconhecimento. Consigo enxergar comportamentos psicopatas nos que se vidraram e passaram a idolatrar a própria imagem e um posicionamento mais melancólico naqueles que a rejeitam. Eu inclusive discordo de alguns autores psicanalistas que afirmam ser impossível aos autistas graves se reconhecerem no espelho, acho que eles se reconhecem, mas isso para eles não tem tanto valor. Não concordo também com Lacan quando ele diz que é o olhar do outro que nos identifica. Para tal, basta que reconheçamos o lugar que nos rodeia que conseqüentemente nos reconheceremos.

 O fato é que o que a imagem nos fará será decisivo para como receberemos o outro. Idolatrando a imagem, ou eu, temos mais chance de desvalorizar o outro e a rejeitando as influencias do outrosobre o eu se tornam mais fortes. Os graus de diferença entre o relacionamento eu x eu e eu x outro vão oscilar desses extremos mais graves a graus variados de perversidade ou neurose. Contrário a Freud, minha definição de perversidade não tem conotação sexual, perversidade para mim é o domínio de uma pessoa sobre a outra sem o consentimento desta.

Assim possibilita-se um grau saudável de relacionamento entre os lados existentes, e todo desequilíbrio dessas forças gerará conflitos, desconfortos e causará sofrimento; e como cada um de nós foi marcado por esses traumas definirá a forma como aceitaremos ou não as situações impostas pelo dia-a-dia.

 Na minha opinião os psicóticos diferenciam-se dos casos acima citados por apresentarem seus sintomas no núcleo do inconsciente e não no eu, daí a certeza subjetiva sobre as alucinações e delírios que não vem do outro, mas de dentro, e não são reconhecidas pelo eupois existem apenas inconscientemente.


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